O Dia Mundial da Água é celebrado, exatamente hoje, 22 de março. A data foi uma proposição da Organização das Nações Unidas (ONU), que desde a década de 90 faz um apelo à população do mundo inteiro a respeito do uso consciente e sustentável da água e da importância dos recursos hídricos para a vida dos ecossistemas e do próprio ser humano. Ademais, o acesso à água potável tornou-se a luta de muitas pessoas pelo direito de existir. Afinal, tamanha é a necessidade de consumo diário do ser humano em relação à água que ele não só precisa para o seu bem-estar como também para a sua sobrevivência.
Como um recurso indispensável a essa sobrevivência é válido dizer que a água, neste caso, garante a vida. E, foi com essa percepção que a ONU, em julho de 2010, em Assembleia Geral, reconheceu esse elemento precioso como um direito humano essencial, por meio da resolução N.º 64/292. Daí em diante, a reflexão que ao longo dos anos marca o Dia Mundial da Água se centra, sobretudo, na questão sobre o controle das águas, a sua mercantilização.
O valor comercial da água é um debate que não fica de fora quando o assunto é Amazônia, principalmente. O fato de estar localizada na maior bacia hidrográfica do mundo sugere a falsa impressão que o recurso hídrico é inesgotável ou renovável, sem levar em consideração os impactos dos desmatamentos, as mudanças climáticas e a exploração da floresta e seus solos que colocam em risco a renovação dos recursos naturais, inclusive a água, junto com a manutenção dos ecossistemas.
Nesse contexto, a luta pela água como direito fundamental se potencializa em locais onde o discurso e a prática de privatizações dos serviços essenciais tornam-se mais presentes, frequentes e degradantes.
A cidade de Manaus é um desses locais modelo. A iniciativa privada na área de abastecimento e esgotamento sanitário, por exemplo, está há um pouco mais de duas décadas na cidade e sempre retorna a ser objeto de denúncias, principalmente de populares insatisfeitos e movimentos sociais que lutam pelos direitos de todos.
Os Igarapés são nossos!
“Quando se junta a Igreja, sociedade e o poder público tem tudo para dar certo. A importância dessa união é fundamental para a revitalização e a conservação do Igarapé do Gigante,” disse Erinete Cruz da Silva, da Igreja Mãe de Deus e da Amazônia.
No último domingo (20), o coletivo Fórum das Águas, articulado pelo Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES, em parceria com moradores das adjacências da Paróquia Mãe de Deus e da Amazônia e o coletivo Aliança pelo Gigante realizaram um Ato simbólico em um dos principais igarapés da cidade, o Igarapé do Gigante, em alusão ao dia mundial da água. O igarapé tem sua nascente preservada, apesar de boa parte dele está localizado em área urbana e sofrer com o recebimento de detritos de esgoto não tratado e lixo da cidade, principalmente em dias chuvosos.
A programação do evento iniciou com uma missa celebrada pelos jesuítas Pe. Paulo Tadeu Barausse e Pe. Sandoval Rocha na comunidade Mãe de Deus e da Amazônia, com uma bonita procissão de entrada que evidenciavam cartazes com frases socioambientais de cuidado como: “Água não é mercadoria! ”. Depois da missa, o grupo partiu em caminhada para o Igarapé do Gigante onde aconteceu o Ato simbólico.
Para Gilberto Ribeiro, do Coletivo Aliança pelo Gigante, “o momento foi de reflexão, de exemplos de arborização, de verificar que nossos rios e nossas águas estão sofrendo os impactos que precisam ser barrados”. Para ele o ato também foi uma forma de dizer para a comunidade do bairro do Planalto e a sociedade sobre a importância de cuidar da casa comum. E ele faz um pedido: “que de preferência os danos ao Igarapé sejam corrigidos através do saneamento básico adequado e através da conscientização das pessoas pelo cuidado desse bem fundamental que é a água.”
Durante a atividade também ocorreram momentos de memória do Igarapé, performance do grupo Allegriah de Arte e Cultura com os bailarinos Vitor Lima e Jaqueline Monteiro, e as falas das instituições e autoridade presentes.
O grupo preocupado com o leito do igarapé, que boa parte está poluído e com pouca vegetação, realizou no local também um momento de arborização, com a plantação de 30 mudas de manjuba, acaí, buriti, ingá.
Segundo Yolsa Carvalho, “foi um ato simbólico de comunidade-comunhão, onde os moradores e outros se uniram para reivindicar a preservação do igarapé do gigante”