Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) divulgada na última semana, revelou que aproximadamente 990 mil pessoas não possuem acesso à energia elétrica na Amazônia. Para atender essa demanda, o governo federal precisará instalar de 3 milhões a 12 milhões de painéis solares até 2030. Mas, apesar do incentivo à produção de energia limpa, há poucos estudos sobre os impactos provenientes do descarte das baterias utilizadas no sistema fotovoltaico.
A instalação dos painéis solares e sua reposição ao longo do tempo tem desafios. Entre eles, está o fornecimento de componentes e serviços para a Amazônia, dadas as grandes distâncias entre os centros de serviços e as comunidades remotas, além de dificuldades logísticas. Outro desafio citado pelo estudo é a prevenção de riscos ambientais ligados ao descarte dessas baterias e outros itens dos sistemas fotovoltaicos, uma vez que a região ainda não possui estrutura para lidar com o lixo químico.
No cálculo do estudo denominado Sistemas Fotovoltaicos na Amazônia Legal, a pesquisa considera dois cenários: um em que os sistemas usam baterias de chumbo-ácido, que são mais comuns e baratas, mas menos eficientes e duráveis (por isso, precisam ser substituídas mais vezes), e outro em que usam baterias de íon-lítio, que são mais eficientes e duráveis. Independente da eficiência, ambas podem causar impactos ambientais negativos no momento do descarte.
De acordo com a pesquisa, a meta de 12 milhões de painéis distribuídos na região amazônica poderá atingir a capacidade de 363 MWp (Megawatt-pico) considerando o padrão do Sistema Individual de Geração de Energia Elétrica com Fonte Intermitente (SIGFI45). No padrão SIGFI 180, a capacidade será de 1.381 MWp. Esse valor é maior do que a atual capacidade instalada em residências, no que se diz respeito a distribuição fotovoltaica (GDFV) dos estados brasileiros.
No final da vida útil dos sistemas instalados, seriam produzidas entre 71 mil e 237 mil toneladas de resíduos. Apenas o SIGFI 180 com bateria de chumbo-ácido geraria cerca de 7 mil toneladas por ano, correspondendo quase o dobro dos resíduos eletrônicos coletados no Brasil em 2021. Já o SIGFI 45 com bateria de íon-lítio corresponderia a mais de 2 mil toneladas.
De acordo com o estudo, considerando a totalidade de resíduos gerados ao longo do tempo, os estados do Acre, Amapá e Amazonas gerariam a menor quantidade de resíduos anual por habitante. Mato Grosso, Rondônia e Tocantins, por sua vez, seriam os maiores geradores de resíduos por habitante.
“A justa garantia de acesso à eletricidade para comunidades remotas da Amazônia, dependendo da velocidade a ser dada ao processo, exigirá um fornecimento contínuo e estável de componentes para sistemas de geração (painéis, baterias, etc.) e os serviços associados”, comentou o André Luis Ferreira, diretor-presidente do IEMA.
No estudo, as ações de descartes e reposição desses sistemas, devido ao fim de suas vidas úteis e ao processo de manutenção, devem ser feitas de forma adequada, uma vez que, metais encontrados nas pilhas e baterias, quando jogados de maneira incorreta no lixo podem contaminar o solo e o lençol freático, por isso devem ser encontradas soluções, a fim de evitar riscos ambientais em áreas sensíveis do local.