Escassez da Água: o aquecimento global como ameaça

Com os impactos das mudanças climáticas, a Amazônia brasileira, por exemplo, apesar de ser tradicionalmente muito úmida, sofre um impacto cada vez maior com as estações secas.
Dia mundial da água

Diante de um consumo desenfreado da água aliado às mudanças climáticas há um risco iminente de escassez dos recursos hídricos. Isso porque, o ciclo hidrológico da Terra é impactado pelas mudanças de temperatura da atmosfera. As alterações nesse ciclo aumentam os níveis de vapor de água que ocasiona, por exemplo, a diminuição do regime de chuvas. Além de causar 75% dos desastres naturais, tais como: tsunamis, tempestades, secas e fortes ondas de calor. A informação faz parte das conclusões do relatório da Organização das Nações UnidasONU, publicado na terça-feira, 21,  em alusão ao Dia Mundial da Água.  

De acordo com o relatório, o uso da água tem aumentado 1% ao ano, nos últimos 40 anos, em âmbito global. A estimativa é que a taxa de crescimento continue neste patamar até 2050.  Como resultado do aumento do consumo que impacta nas mudanças climáticas, locais onde há abundância de recursos hídricos hoje, como partes da América do Sul, a África Central e a Ásia Oriental, poderão ter temporadas mais longas de escassez de água. Já em regiões onde a água é escassa, como no Oriente Médio e na África, a tendência é de um cenário ainda pior nos próximos anos. 

“A escassez de água está se tornando endêmica, como resultado do impacto local do estresse hídrico físico, juntamente com a aceleração e a disseminação da poluição da água doce”, cita o documento. 

Cerca de 10% da população mundial vive num país onde se chegou a um nível alto ou crítico de stress hídrico (relação entre utilização da água e a sua disponibilidade). Por outro lado, ainda de acordo com o relatório dos especialistas em clima da ONU, cerca de metade da população mundial sofre de escassez “severa” de água durante parte do ano.  

Anualmente, pelo menos 1,4 milhão de pessoas, muitas delas crianças, morrem de doenças preveníveis causadas pela baixa qualidade da água ou de seu acesso escasso. 

Com os impactos das mudanças climáticas, a Amazônia brasileira, por exemplo, apesar de ser tradicionalmente muito úmida (recebendo até 5.000 mm de chuva por ano), possui áreas que se tornaram mais áridas, sofrendo um impacto cada vez maior com as estações secas. Vários países já acumulam altos índices de estresse hídrico, sofrendo secas prolongadas mais frequentes e intensas, como é o caso do México, Chile e Peru, e dos países do corredor seco da América Central. 

Durante o Fórum  “A Água e as Mudanças Climáticas”, promovido pelo Instituto Água Sustentável – IAS em 2021, o Doutor em Ciências Naturais com ênfase em desenvolvimento de cenários de ameaça climática para estudos hidrológicos pela Technische Universitaet Dresden, Alemanha, Pablo Borges de Amorim, afirmou que o aquecimento global já causa grandes tragédias com o descontrole do ciclo hidrológico no planeta e pode piorar as condições de disponibilidade da água. 

“Um planeta mais quente intensifica o ciclo hidrológico e acaba causando alterações nos padrões de circulação atmosférica, esses são os principais ingredientes que vão gerar mais chuva ou uma grande seca . É como se tivéssemos uma panela de pressão que está na sua temperatura normal, e quanto mais depositamos calor, teremos uma circulação de água mais acelerada.” Disse Amorim.   

O Especialista também reforçou que as causas mais comuns para a crise hídrica, tanto no mundo quanto no Brasil, são: desperdício de água; diminuição do nível de chuvas e o aumento do consumo de água devido ao crescimento populacional, industrial e da agricultura.  

 

Dia Mundial da Água  

O tema definido pela Organização das Nações Unidas – ONU “Acelerando Mudanças – Seja a mudança que você deseja ver no Mundo” para o Dia Mundial da Água 2023, celebrado  hoje, propõe discutir formas de acelerar mudanças para solucionar a crise global da água e o saneamento. O 22 de março, criado desde 1992, visa à ampliação da discussão em torno das questões hídricas. 

Com isso, a Organização pretende estimular as pessoas de todo o planeta a cadastrarem seus compromissos para serem adicionados à Agenda da Década Internacional da Água, uma resolução que pretende enfatizar o desenvolvimento sustentável e a gestão integrada dos recursos hídricos como elementos cruciais para alcançar os objetivos sociais, econômicos e ambientais. A resolução vislumbra uma década de ação, de 2018 a 2028.

 

Consumo  

Segundo o estudo de 2021 da UNESCO, a agropecuária é a maior consumidora de água atualmente, responsável por 69% da retirada anual de água no mundo. As residências particulares respondem por 12% e a indústria (incluindo a geração de energia), por 19%. 

No Brasil, por exemplo, a agricultura é altamente dependente da água para irrigação e consome cerca de 52%. Mas uma projeção de uma pesquisa realizada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) em 2019, afirma que esse uso pode aumentar em 24%. Segundo a pesquisa, esse excesso de consumo poderá gerar uma deficiência na distribuição de água entre as regiões da América Latina, a previsão atinge, especialmente,  países como Argentina, Brasil e Paraguai, que compartilham recursos hídricos e já sofreram graves episódios de seca nos últimos tempos. 

De acordo com as estimativas feitas pela World Resources Institute (WRI), desde 2014, 31 países passam por estresse hídrico entre 25% e 70%. Outros 22 países estão em situação grave de estresse hídrico, ou seja, acima dos 70%. Entre eles estão: Catar, Israel, Líbano, Irã e Jordânia. Isso significa que essas nações fazem uso intenso do recurso, com grandes impactos na sustentabilidade, e sofrem principalmente com a falta de água.  

 

O Acesso  

Além da falta de água, o problema também é a contaminação da que está disponível, devido à ausência ou deficiência de sistemas de saneamento. Dados do novo relatório de 2023 da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, UNESCO, revelam que em um planeta com 8 bilhões de habitantes, 26% da população global não tem acesso à água potável. Cerca de 46% dos habitantes do planeta não possuem serviços de saneamento seguros, o equivalente a 3,6 bilhões. Ou seja, são bilhões de pessoas sujeitas à cólera, disenteria, febre tifoide e poliomielite. 

Outros dados emitidos pela ONU no mesmo relatório, apontam que uma em cada quatro pessoas carece de água potável gerenciada com segurança em suas casas. O estudo visa esclarecer os problemas sobre a questão hídrica e  evitar uma crise de água iminente que pode causar um déficit de 40% no abastecimento global do recurso até 2030. 

 

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ascom

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