As enigmáticas gravuras em forma de rostos humanos, conhecidas como petróglifos, submersas nas paredes rochosas do sítio arqueológico e geológico das Lajes, nas margens do rio Negro, em Manaus (AM), voltaram a surgir com a estiagem deste ano, revelando um vislumbre do passado ancestral da região. A última vez que essas artes rupestres estiveram visíveis foi durante a seca de 2010, quando, aliás, foram descobertas.

A área onde as gravuras são encontradas chama-se Ponta das Lajes e é possível chegar até lá pelo bairro Colônia Antônio Aleixo, na zona leste de Manaus. O sítio é um dos locais arqueológicos mais antigos da região e foi o primeiro a ser registrado no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Especialistas acreditam que essas gravuras datam de 1.000 a 2.000 anos atrás. No entanto, grande parte delas e dos vestígios arqueológicos se deterioraram ao longo do tempo devido às ações humanas e falta de preservação adequada. Essas gravuras incluem representações de rostos humanos, animais, imagens das águas e cortes nas rochas que indicam a confecção de ferramentas líticas no local e apresentam diferentes técnicas como a percussão e a incisão.
Desde a descoberta em 2010, o sítio arqueológico está mais degradado. O lixo se acumula na área do entorno, muitas vezes descartados por visitantes que não percebem a importância arqueológica do local. Além disso, fragmentos cerâmicos valiosos que cercavam o pedregal avistados anteriormente estão agora soterrados por obras de infraestrutura recentes.

As novas descobertas na Ponta das Lajes destacam a necessidade de preservação e estudo adequado destes sítios arqueológicos únicos na região da Amazônia. Eles não apenas contam a história das populações indígenas antigas, mas também revelam a importância da conservação ambiental para o equilíbrio ecológico da região, especialmente diante dos desafios das mudanças climáticas e da degradação causada pelas atividades humanas.

Amazônia abriga mais de 10 mil registros de antigas comunidades indígenas
Ao mesmo passo que a seca revela figuras rupestres na capital amazonense, um novo estudo publicado na revista Science mostra que a Amazônia abriga mais de 10 mil registros de antigas comunidades indígenas. A iniciativa, liderada por cientistas brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), utilizou tecnologia de ponta em monitoramento remoto para mapear a região.

Os pesquisadores utilizaram um sensor LIDAR (Light Detection and Ranging) para mapear uma área de 0,08% da Amazônia, nos estados brasileiros de Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas e Pará. O sensor permite reconstruir os elementos da superfície em um modelo 3D, removendo digitalmente toda a vegetação e iniciando uma investigação precisa e detalhada do terreno sob a floresta.
A partir do mapeamento, os pesquisadores identificaram 24 novos registros arqueológicos, incluindo terraplenagens, círculos e estruturas semelhantes a geoglifos. Essas estruturas são anteriores à chegada dos europeus no continente e remontam de 1.500 a 500 anos atrás.
Os pesquisadores também usaram dados arqueológicos e modelagem estatística avançada para estimar que a Amazônia pode abrigar mais de 10 mil registros de obras pré-colombianas.
O estudo tem implicações importantes para o nosso entendimento da história e da cultura da Amazônia. Ele mostra que a floresta não era tão intocada quanto se acreditava e que as antigas comunidades indígenas deixaram um legado significativo na região.