Na manhã de hoje (29), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva confirmou o Ministério dos Povos Indígenas com a nomeação de Sônia Guajajara para ser a ministra da pasta. A líder indígena é ex-coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e no último pleito eleitoral foi eleita Deputada Federal pelo estado de São Paulo. Para o movimento indígena o feito é histórico e uma conquista da luta e resistência dos povos originários no país.
A nomeação da Guajajara não foi completamente surpresa entre o movimento indígena e indigenistas, pois a APIB em 12 de dezembro deste ano publicou Carta Aberta que foi apresentada ao Lula na qual propôs a indicação de três nomes para o ministério: Joênia Wapichana, primeira mulher indígena eleita Deputada Federal no Brasil (2018); Weibe Tapeba, engajado nas políticas indígenas e vereador de segundo mandato no Ceará; e Sônia Guajajara.
A promessa da criação do Ministério dos Povos Indígenas pelo Lula aconteceu na 18º edição do Acampamento Terra Live e mobilizou milhares de etnias nas eleições 2022 com uma resposta direta convertida em votos válidos para o então candidato. As terras indígenas (TI’s) respondem por um terço das urnas e nelas o presidente eleito teve 100% dos votos. Ele teve unanimidade em 48 urnas em TI’s espalhadas por 11 estados. Isso sem contar com os votos de indígenas que vivem em espaço urbano.
A APIB comentou na imprensa que “a pasta foi construída e pensada por lideranças de diferentes povos” que compunha o grupo técnico (GT) do gabinete da equipe de transição do Governo. O coordenador executivo da Apib e do GT ressaltou a importância do processo.
“A participação do movimento indígena na transição governamental, na construção do Ministério e na recomposição da Sesai e Funai é histórica na luta dos povos indígenas no Brasil. Vamos continuar acompanhando de perto esse processo e participando de maneira efetiva, sempre fortalecendo e cobrando melhores políticas públicas do governo para os indígenas”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib e do GT.
Sobre Sônia Guajajara
Líder indígena do povo Guajajara com jornada de visibilização da causa indígena nacionalmente e internacionalmente, contribue também com discussões de temáticas socioambientais e climáticas. Ela é do povo Guajajara/Tentehar da Terra Indígena Araribóia do Estado do Maranhão. Ela faz parte da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e atuou como coordenadora da APIB. Foi apontada como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2022 pela Revista Americana Time.
Em uma de suas redes sociais, Sônia comenta:
Sinto muito honrada e feliz com a nomeação de Ministra. Mais do que uma conquista pessoal, esta é uma conquista coletiva dos povos indígenas, um momento histórico de princípio de reparação no Brasil. A criação do Ministério é a confirmação do compromisso que Lula assume com nós.
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) December 29, 2022
Repercussão da nomeação
Após a confirmação do nome de Sônia Guajajara para chefiar o Ministério do Povos Indígenas houve opiniões divididas entre os povos originários sobre a escolha da ministra do presidente eleito.
Para uns a nomeação de Sônia vai causar mais enfraquecimento na luta por direitos no Congresso Nacional. Uma vez que a indígena havia sido eleita para Deputada Federal pelo estado de São Paulo e não irá assumir, ficando a cadeira no Congresso para a 1º suplente do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), Luciane Cavalcante. Anteriormente, indígenas comemoravam o feito histórico do último pleito, pois galgaram espaço na Câmara dos Deputados com cinco representantes indígenas. Apesar de um baixo número, ainda foi o maior de todos os pleitos.
Para outros, a escolha foi acertada, tendo em vista toda a militância e envergadura da sua personalidade na luta indígena, principalmente pela organização e mobilização dos povos originários nacionalmente à frente da APIB e como figura pública respeitada internacionalmente.