Na tarde de sexta-feira, 09 de agosto, o Fórum das Águas reuniu diferentes grupos que defendem a preservação ambiental, como religiosos, comunitários e pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que participaram das discussões da ‘Conferência sobre a Seca na Amazônia’, no auditório Mãe Paula, prédio da Cúria em Manaus. A Conferência teve como objetivo aprofundar conhecimentos e experiências sobre a seca na região norte.
Na abertura do encontro, Pe. Sandoval Rocha, SJ, coordenador do Fórum das Águas, refletiu sobre a dificuldade que as comunidades ribeirinhas passam todos os anos por causa do fenômeno climático: “Esse ano de 2024 vai ser mais severo ainda que o ano de 2023. Então a gente se preocupa porque somos um organismo, uma coletividade que tem como preocupação a universalização do serviço de água, o direito humano a água e ao saneamento. A gente discute dentro dessa conferência a partir da percepção de algumas comunidades ribeirinha e indígenas do interior. Eles não puderam vir mas contribuíram com vídeos sobre a real situação no interior”, concluiu o jesuíta.

Na sequência, diversos vídeos foram exibidos das comunidades locais dos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga e Benjamin Constant, um grito de clamor de todas as 72 comunidades indígenas Tikuna, Kokama, Kambeba e Kanamari que lidam com o problema da seca extrema.
De acordo Renildo Kambeba, que coordena ‘Pequenos Agricultores Familiares’ no Alto Solimões, só que mora na região sabe das reais dificuldades enfrentadas diariamente: “Para quem vive só de plantação, é uma dificuldade. Tem muitos agricultores que estão sofrendo porque não pode ver a sua produção pois não pode sair. A seca está grande, a sua plantação está morrendo e estão tentando conseguir recursos. O governo olha para quem está morando nas cidades, mas quem mora no interior, no final, ninguém está indo”, lamentou Renildo Kambeba.
Abel, líder comunitário da comunidade de Santa Luzia, zona rural de Manaus, faz parte da Rede Viva. Ele expôs a dificuldades de comunidade próximas a capital: “isso daqui é a realidade ali da Vila do Puraquequara, é vizinho, 20 minutos de canoa até a minha comunidade e a gente passa por isso daí, tomando água de cacimba, um filete de água. Os flutuantes se quebram, único bem de uma família se quebra e cadê o recurso para depois? Nós solicitamos ajuda pela Defesa Civil, com ofício e tudo, para simplesmente construirmos ponte para ir a escola, não tivemos retorno. Eu tenho fé e esperança no Criador. Ele faz chover, secar, e faz encher os rios. Os peixes que se acabam, ano que vem estão de novo para nos alimentar. A ciência prega algo e Deus faz outra coisa mais especial por isso que acredito, eu não perco a fé”, concluiu Abel, líder comunitário.
Do lado de fora do auditório, o fotógrafo Walter Calheiros, que participa do movimento SOS Encontro das Águas, apresentou um resumo de 10 anos de fotografia que possue 120 registros como o tema ‘Água Limpa e Degradação Ambiental’

Seca 2024
A seca esse ano chegou antes do previsto. A água dos rios desceu antes da primeira quinzena de junho. Segundo o relatório da Defesa Civil, a projeção de chuva para esse trimestre (julho, agosto e setembro) é de e chuvas abaixo da média sobre as regiões das calhas do Alto Purus, Médio Purus, Alto Juruá, Médio Juruá, Alto Solimões e Alto Madeira. Nas demais áreas, a previsão indica volumes de chuva próximos à normalidade.
Já o relatório de Monitoramento Hidrológico entre 1° de julho a 1°de agosto, aponta que os rios amazônicos continuam em processo de vazante. O rio Juruá apresenta processo de vazante, e a estação de Cruzeiro do Sul (Guajará) está com níveis de 5 metros atualmente. A estação fluvial em Itamarati reduziu seu nível em mais de 4 metros no mês de junho e encontra-se fora da zona de normalidade. No rio Purus, as cidades de Boca do Acre, Lábrea e Canutama estão em processo de vazante, com Boca do Acre, em especial, apresentando 4 metros de nível e registrando uma redução de 15,36 metros desde o início da vazante. Em Beruri, o nível do rio iniciou o processo de vazante. Na bacia do Madeira, tanto Porto Velho quanto a estação de Humaitá encontram-se em processo de vazante abaixo da zona de normalidade, com perspectivas de permanecer nesse cenário nos próximos meses.
Fonte: Arquidiocese de Manaus