O Núcleo Apostólico Belém e Santarém acolheu, no dia 10 de junho, um momento de escuta e partilha com representantes de organismos e pastorais sociais, instituições de pesquisa, Ministério Público Federal e territórios tradicionais, para refletir sobre as perspectivas diante da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
Promovida e mediada pelo Centro Alternativo de Cultura Pe. Freddy – CAC, a roda de conversa, seguindo a dinâmica da conversação espiritual, possibilitou aos participantes partilharem suas atuações e engajamentos na preparação para a COP30. O encontro gerou reverberações e apelos a partir da escuta e da sistematização de convergências e pistas de ação para um trabalho colaborativo e em rede, tanto com as organizações presentes quanto com as articulações da própria Companhia de Jesus em vista da COP em Belém.
A primeira partilha foi realizada pela cacica Yuna Mirian Tembé, liderança da aldeia I’íxing, em Tomé-Açu (PA), que apresentou o cenário de luta e resistência de seu povo diante das constantes ameaças, negações e violações de direitos provocadas por grandes projetos de mineração, pecuária e monocultura. Ela também relatou sua atuação em diversas organizações e atividades para que as vozes dos territórios originários e tradicionais sejam ouvidas e consideradas nas decisões relacionadas ao presente e ao futuro da Amazônia. Já a ecóloga Ima Vieira, professora e pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, compartilhou suas impressões sobre a importância histórica e científica da realização da COP na Amazônia. Segundo ela, trata-se de um evento de abrangência mundial que precisa, de fato, trazer para o centro da discussão a questão climática, considerando o diálogo entre os saberes científicos e tradicionais na construção de uma pauta comum, voltada à superação das mudanças climáticas intensificadas pela ação predatória do ser humano sobre a natureza.
Representantes do Instituto Zé Claudio e Maria, da Comissão Pastoral da Terra, da Cúpula dos Povos, da Articulação REPAM COP30 e da Arquidiocese de Belém também compartilharam suas trajetórias, desde as escutas e planejamentos de ações voltadas à defesa do meio ambiente e promoção da ecologia integral, até a organização de atividades e formas de atuação para o fortalecimento das organizações e dos movimentos sociais, com vistas à participação popular na 30ª Conferência.
Integrantes da equipe do CAC e colaboradores voluntários partilharam suas experiências sobre como têm contribuído para o fortalecimento da promoção da justiça socioambiental e do cuidado com a Casa Comum, a partir da formação das comunidades em que atuam e da incidência junto aos movimentos sociais.
Pe. Valério Sartor, SJ, coordenador do Núcleo Apostólico Belém e Santarém e integrante do comitê provincial de preparação para a atuação da Companhia de Jesus na COP30, partilhou os esforços para tornar viável e eficaz o trabalho e o diálogo da Companhia no contexto da COP30, especialmente diante dos desafios logísticos que se apresentam. Já o Pe. Peter Rožič, SJ, diretor da Rede de Pesquisa em Ecologia Integral do Instituto Laudato Si’ – Oxford, que esteve pela primeira vez na Amazônia brasileira, compartilhou experiências adquiridas a partir de seu trabalho como pesquisador da rede de pesquisa da Companhia de Jesus (IERN, na sigla em inglês). Ele também sugeriu possíveis caminhos para o fortalecimento do trabalho em rede entre organismos, instituições, movimentos sociais e universidades, especialmente no que tange à incidência socioambiental e à promoção da fé e espiritualidade na perspectiva da reconciliação justa dos povos com a natureza e com a terra.
A síntese das convergências foi apresentada por Juscelio Pantoja, coordenador do CAC, que também mediou os momentos do encontro. Entre os principais pontos, destacou-se o reconhecimento dos diversos trabalhos realizados em prol da justiça climática, com a convocação para uma articulação em rede que fortaleça as mobilizações e as pautas que garantam os direitos dos territórios e da floresta em pé. As experiências partilhadas suscitaram reflexões sobre a importância de se organizarem e planejarem momentos de intercâmbio de saberes entre movimentos, comunidades tradicionais, universidades e centros de pesquisa, visando à construção de estratégias para a superação das mudanças climáticas, à proteção dos territórios e à formação em ecologia integral. Também foi destacada a necessidade de promover o diálogo entre a espiritualidade inaciana, a diversidade religiosa amazônica e o diálogo inter-religioso, em favor da ecologia integral e do cuidado com a Casa Comum.
O sentimento ao final da roda de conversa foi semelhante ao de vivenciar uma “composição de lugar”, nos moldes da espiritualidade inaciana — ver as pessoas, escutá-las, sentir com elas. Ainda que o tema não fosse novidade, os esforços conjuntos pela promoção da justiça socioambiental já vêm sendo realizados há tempos pelos movimentos sociais e pela própria Companhia de Jesus. E, no contexto da COP30, continuarão a acontecer — dentro, fora, antes e depois da Conferência.
FONTE: Centro Alternativo de Cultura