Amazônia apresenta propostas para a COP30, com participação do Sares

Obra da Companhia de Jesus foi convidado pela Secretaria-Executiva do CDESS (SRI/PR) para integrar o Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a Presidência da COP30

Manaus (AM) sediou nesta semana dois importantes encontros preparatórios para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém (PA), em 2025. As atividades reuniram instituições científicas, organizações da sociedade civil e representantes da Presidência da República, fortalecendo o protagonismo amazônico no debate climático global. O Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), obra da Companhia de Jesus em Manaus, marcou presença nos dois eventos.

Voz dos Biomas: mulheres e comunidades amazônicas em escuta para a COP30

No dia 19 de agosto, às 14h, no Museu da Amazônia (MUSA), aconteceu o encontro “A Voz dos Biomas rumo à COP30 – Amazônia”, que reuniu organizações de mulheres, movimentos sociais e instituições da região. O Sares participou dessa escuta por meio de sua analista social Mary Nelys.

A iniciativa faz parte de um processo organizado pela Presidência brasileira da COP30, que estabeleceu a figura de Enviadas e Enviados Especiais. Entre elas estão Denise Dora (Direitos Humanos e Transição Justa), Janja Lula da Silva (Mulheres) e Jurema Werneck (Igualdade Racial e Periferias). O objetivo é dialogar sobre os desafios climáticos enfrentados pelas comunidades nos seis biomas brasileiros e ouvir propostas de soluções vindas diretamente dos territórios.

As contribuições dessas escutas serão reunidas nas chamadas “Cartas dos Biomas”, a serem entregues em outubro, trazendo recomendações em igualdade racial, de gênero e direitos humanos para orientar a Agenda de Ação da COP30.

Segundo Mary Nelys, do Sares, esse processo é fundamental: “Garantir que as vozes do bioma amazônico sejam ouvidas é essencial. Como foi dito no encontro: nós somos a resposta. É preciso que nossas reivindicações cheguem às mesas de negociação da COP30 por meio das nossas enviadas especiais.”

Ciência amazônica entrega propostas à Presidência da COP30

Já no dia 20 de agosto, no auditório Eulálio Chaves da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ocorreu o Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a Presidência da COP30. O Sares participou como convidado da Secretaria-Executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), vinculada à Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI/PR), somando-se a mais de 200 representantes de universidades, institutos de pesquisa, ONGs e organizações comunitárias.

Na ocasião, foi entregue ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, e à primeira-dama Janja da Silva, uma carta estratégica elaborada por mais de 70 instituições da Amazônia, com propostas de soluções concretas e adaptadas à realidade regional.

O documento apresenta recomendações em seis eixos centrais:

  • Transição energética (solar, biomassa, hidrogênio verde e microgeração para comunidades isoladas);
  • Gestão de florestas e biodiversidade (restauração, combate ao desmatamento e manejo sustentável com participação indígena);
  • Transformação da agricultura (sistemas agroflorestais, segurança alimentar e valorização da sociobiodiversidade);
  • Resiliência urbana e hídrica (arquitetura bioclimática, mobilidade sustentável e gestão integrada das águas);
  • Desenvolvimento humano (formação para empregos verdes, promoção da bioeconomia e valorização de culturas tradicionais);
  • Eixos transversais (financiamento climático, inovação tecnológica e cooperação internacional).

A carta também denuncia obstáculos como falta de orçamento, logística precária e pouca valorização dos saberes tradicionais, e propõe medidas estruturantes como investimento contínuo em ciência, modernização de laboratórios, apoio à bioeconomia e valorização dos conhecimentos locais.

O chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, destacou a centralidade desse momento: “Pela primeira vez, não é o mundo falando da Amazônia, é a Amazônia falando com o mundo e sugerindo os passos que a humanidade precisa dar. ”

Jesuítas pela Justiça Climática na COP30: Um Chamado Ético e Profético

Durante o evento, o diretor do Sares, Silvio Marques, SJ, enviou uma mensagem ressaltando a dimensão ética e espiritual da luta climática, que a Companhia de Jesus assume como missão. Inspirado pela encíclica Laudato Si’, ele destacou três pilares para uma ação climática justa:

  1. Justiça financeira – cancelamento da dívida dos países em desenvolvimento e fortalecimento do Fundo de Perdas e Danos;
  2. Transição energética justa – fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e construção de um futuro renovável inclusivo;
  3. Soberania alimentar – promoção da agroecologia e de sistemas alimentares que respeitem a natureza, os saberes tradicionais e os pequenos produtores.

“A COP30 é mais que uma conferência. É um altar onde oferecemos nossa esperança ativa e nossa indignação profética. É um chamado para lembrar aos líderes mundiais que a Casa Comum não é negociável”, destacou Silvio Marques. Ele ainda ressalta que “A Companhia de Jesus se coloca a serviço desta causa, em reconciliação com a Criação. Convocamos todos a se unirem a nós nesta missão urgente: pela justiça climática, pela vida, por um futuro onde a dignidade de toda a Criação seja respeitada. ”

Amazônia como protagonista

As contribuições entregues em Manaus reafirmam que a Amazônia deve ocupar um lugar central na agenda climática global. Ao reunir ciência, saberes tradicionais, comunidades e espiritualidade, os encontros demonstram que a região não é apenas objeto de debate, mas sujeito ativo de soluções para a crise climática.

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Felipe Moura

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