Em entrevista ao programa Casa Comum (uma iniciativa do OLMA em parceria com a Rádio Amar e Servir e a comunicação da Província dos Jesuítas do Brasil), o padre Agnaldo Júnior, delegado socioambiental da CPAL — a Conferência dos Provinciais da Companhia de Jesus para a América Latina e o Caribe — afirmou que a presença jesuíta na COP30, que acontecerá em Belém (PA) em novembro de 2025, será “a mais articulada e colegiada” da história recente. “A conversão ecológica começa nas atitudes pessoais”, destacou, ao defender que o engajamento vai do nível global às escolhas cotidianas.
O papel articulador da CEPAL
Falando de Lima, onde atualmente reside, padre Agnaldo explicou que a CPAL não é um órgão de governo, mas “um organismo de articulação para a missão”, que conecta 12 províncias e mais de 20 países jesuítas na região. Segundo ele, nove dessas províncias já inserem a ecologia integral e a justiça socioambiental como prioridade em seus planos apostólicos. “Nossa tarefa é ajudar as províncias a coordenarem melhor o que têm em comum na missão, potencializando a atuação em educação, espiritualidade e no campo socioambiental”, disse.
Essa articulação regional também se conecta com a Cúria em Roma, por meio do Secretariado para Justiça Social e Ecologia, e com redes globais de incidência como o EcoJesuit.
Amazônia no centro — presença antiga, compromisso renovado
Para além do calendário da COP, padre Agnaldo ressaltou que a presença jesuíta na Amazônia é histórica e hoje se consolida com o Serviço Jesuíta Pan-Amazônico (SJPAM), que integra paróquias, centros sociais, obras educativas e presença junto a povos indígenas. “O SJPAM quer desenvolver compromissos com a ecologia integralcomo eixo transversal e com a educação de qualidade que respeite raízes, línguas e tradições dos povos da floresta”, afirmou.
Segundo ele, a Companhia de Jesus avança em rede e em sinergia com a Igreja e a sociedade civil, ao lado de iniciativas como SEAMA, EPAM e o Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA). Essa atuação, destacou, inclui defesa de lideranças ameaçadas, enfrentamento do desmatamento, das falsas soluções e de economias extrativas que “estrangulam populações”.
Uma presença coordenada nas três zonas da COP
Desde que Belém foi confirmada como sede, a Companhia organizou, pela primeira vez, uma coordenação colegiadapara a COP: “Houve presenças importantes em conferências anteriores, mas a COP30 está sendo preparada com uma coordenação muito mais elaborada, conectando a comissão brasileira à comissão global”, explicou.
A estratégia prevê presença na Zona Azul (negociações oficiais), na Zona Verde (sociedade civil credenciada) e nos espaços públicos da cidade, ampliando escuta e incidência. Entre as ações já em curso estão podcasts temáticos, a mobilização de escolas e universidades (com iniciativas como “cartas pela terra” entre estudantes) e comunicações formais a parlamentos nacionais para pressionar a implementação de compromissos. “Já vimos 30 COPs. Agora, é hora de implementar”, enfatizou.
Quatro frentes centrais para Belém
Padre Agnaldo apresentou os quatro temas que irão guiar a atuação jesuíta em Belém, em diálogo com agendas da Igreja e de parceiros:
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Perdão da dívida dos países menos desenvolvidos
“É uma bandeira desde o Jubileu de 2000. Países muito afetados pela crise climática não têm recursos para mitigação e adaptação. O perdão permitiria investir no desenvolvimento local e na proteção da população.” -
Financiamento climático efetivo
“Sem recursos não há resposta à altura. Muitas nações que menos emitem padecem os piores efeitos. É preciso garantir fluxos financeiros justos, previsíveis e suficientes.” -
Agroecologia e economias justas
“Precisamos repensar produção, consumo e comércio, superando modelos que matam. A Economia de Francisco e Clara inspira solidariedade, sustentabilidade e o protagonismo de jovens economistas.” -
Transição energética
“É tema central. Se insistirmos em combustíveis fósseis — petróleo e gás — não haverá metas que resistam. É urgente substituir matrizes de maior impacto e acelerar energias limpas.”
Essas frentes, observou, dialogam com temas estruturais como água, direitos de povos indígenas e justiça intergeracional. “Estamos consumindo o capital do recurso ambiental. A cada ano, chegamos mais cedo ao limite dos bens naturais. As inundações, a desertificação e o estresse hídrico mostram um momento crítico”, alertou.
Chamado à conversão ecológica — do global ao cotidiano
Ao final, o delegado socioambiental da CPAL fez um convite prático à participação ampla: “Todos nós podemos nos conectar com a COP30. Mesmo sem ir a Belém, é possível aprofundar conhecimento, acompanhar os temas e cobrar compromissos assumidos pelos países.”
E concluiu com um apelo pessoal: “A conversão ecológica começa nas atitudes: o que consumimos, o que compramos, como tratamos nossos resíduos. Pequenos gestos, como sementes de mostarda, geram efeitos concretos quando vividos por muitos.”
Fonte: Rádio Amar e Servir