Relato de uma vida missionária

O testemunho é da irmã Joaninha Honório Madeira da Rede Itinerante na Amazônia que conta um pouco da sua experiência de missão.

A vida missionária é uma graça e um dom, uma resposta de homens e mulheres que decididamente dão o seu ‘sim’ ao projeto do Reino de Deus: levar a Boa Notícia até os confins do mundo. No entanto, ela tem inúmeros desafios. A irmã Joaninha Honório Madeira que atua na Amazônia a partir da Rede Itinerante ligada a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e a Confederação latino-americana de Religiosos e Religiosas (Clar) relata alguns desses desafios. Confira!


 

Rio Negro rio das ondas, banzeiros e das paisagens que uma vez contempladas permanecem, na retina por muito tempo.

O Rio Negro tem sua beleza própria. Seus encantos e misticismo. Sua água de cor escura, cor de café as vezes se misturam e se mostram de corres variadas. A beleza de suas águas encanta todos que por elas transitam. O contraste entre a selva e as águas fazem de espelho como se houvesse uma floresta dentro e outra fora do rio. Incrível este fenômeno. Os pores de sol parece que são de ouro. E aquele entardecer! Somente os e as que transitam subindo e descendo o Rio Negro em Barco podem desfrutar, estas paisagens que nos reconfortam nas longas viagens de Manaus a São Gabriel da Cachoeira. Durante a cheia do rio viaja se tranquilo contemplando estas maravilhas. O que não se vê quando está alto o nível das águas, se vislumbra durante a seca dos rios, pedras imensas e volumosas que mudam o curso dos navegantes. Assusta pela quantidade e forma desenhadas certamente pelas batidas das ondas que acariciam as pedras a cada embarcação que ao passar geram grandes ondes ou banzeiros

Já com as secas tropicais que se dão todos os anos nos períodos de agosto a outubro normalmente nesta região se viaja tranquilo. No ano 2023, houve uma seca que a há 121 anos não se via segundo os especialistas em clima. Rio Negro em alerta. Barcos encalhados. comunidades precisando auxilio água, alimentação. Um fenômeno anormal na Amazônia que é rica em água e biodiversidade.

As praias se despontam com suas arreias brancas e lavadas, características deste rio, que atrai muita gente nos lugares de fácil acesso para desfrutar. Também para recrutar os ovos das tartarugas que nesta época fazem sua desova.  A secas deste ano assustou muita gente, as famílias ribeirinhas sofreram na pele a escassez de tudo. A natureza está em dores de parto e não se sabe de quantos meses será esta gestação.

Um grupo de viajantes experimentou na pele a força dos ventos e das ondas com a fúria de tantos descasos que se veem oferecendo a mãe terra. A seca estava acima do esperado e a viagem de são Gabriel a Fronteira de San Felipe com São Carlo tem durado em média uma semana, o que normalmente se faz em dois dias e meio, no máximo três. Uma equipe de trabalhadores e comerciantes com suas cargas para abastecer os mercados de fronteira. Saiu de São Gabriel dia 4 de outubro São Francisco de Assis. Percorreram os muitos Km de cachoeiras singrando contra as correntezas e recebendo a água que entrava em abundancia nos bongos devido a força das correntezas que se formam nas cachoeiras e o peso das embarcações.

 

Após vencer esta etapa de cachoeiras, a equipe de trabalhadores seguida de algumas passageiras, adultos criança e bebê de colo entre os espaços de carga se abrem espaço para os passageiros que precisam também chegar às fronteiras, uns por missão, outros por precisão, outros por exploração nos garimpos e outros campos de atuação irregulares… que nesta região funcionam clandestinamente. Todos viajando distribuídos entre as cargas e passageiros.

Após dois dias de viagem a surpresa. Um remoinho de vente os surpreendeu. Na altura do Rio Xié boca do Xié, o tempo foi curto e a tormenta chegou muito rápido e mal se conseguiu encostar as embarcações a beira do rio a margem esquerda. E salvar a vida. Das cinco embarcações somente duas conseguiram se manter a salvo. As demais naufragaram, com muitas perdas matérias. A vida misteriosamente salva pela graça das divindades.

Foi um momento que durou pouco tempo e que não sai da cabeça. Parecia senas de um tsunami. Tudo descia água abaixo. As coisas secas iam boiando. Outras sendo levadas pela força da correnteza. Desespero, choro, gritos. Pessoas agarradas aos pacotes e malas contendo compras valiosas vindas de Brasil. Mãe acalentando e sendo forças aos filhos que assustados choram de medo. O dono das embarcações, com uma força impressionante, que não se sabe de onde vem nesta hora, ou sabemos, que há alguém que nos cuida sempre e sobretudo nestas horas de agonia. De desespero, perda de tudo que adquiriu com esforço. Buscava força dentro para seguir jogando para fora as coisas que iam aparecendo na beirada do rio e as que podiam serem vistas iam dando cor ao rio misturando caixa de comida. Bebidas, bolacha, trigo, café, arroz. Açúcar; caixas de bombom garoto.  As bebidas pelo peso se iam recuperando e colocando no barranco enquanto se esperava passar um pouco a tormenta.

De repente, o senhor se lembrou dos demais bongos. Onde estaria: naufragaram todos? E quele velhinho que estava em um bongo atrás de nosso gritou o senhor Paulo. E foi socorrer o bongo que havia afundado com a carga de Cimento. 150 sacos a 50,00 cada. O bongo afundou totalmente. Com a ajuda solidaria das duas comunidades vizinhas (Bom Jesus e Macedônia) que vieram prestar socorro. Puderam   retirar o bongo e ver o que se poderia salvar. Somente   as bebidas, o restante perda total. Dois bongos conseguiram entrar em um furo e alojar entre as pedras e se salvaram. Os outros três não tiveram a mesma sorte.

 

 

A natureza tem sua própria força. Nos sentimos impotente frente a ela redemoinho removia a água do rio e esta, entrava dentro dos bongos e fazia com que virava e derrubava as cargas que vinham colocadas encima do bongo. Não era chuva era a água do rio se levantando como um tsunami. Dava medo, mas, naquela hora a nossa segurança vinha do senhor. Ele é nossa fortaleza e proteção. SL 27

Passei por esta experiência e de verdade a gente se sente pequena, frágil, impotente e ao mesmo tempo, sentimos que há na gente uma força que na hora enfrentamos, ajudamos nos movemos estamos atentas para ajudar e apoiar. Após este tempo de adrenalina, então sim as energias caem, o sono se vai e a ansiedade redobra.

Passar de novo dentro de um mês pelo mesmo lugar, foi outra experiência. A memória aguça outra vez. Me senti muito tensa e nervosa. Pelo fato de reviver; e desta vez viajar em um barco muito veleoz-150 cilindrada, fez aumentar adrenalina. Medo de bater nas pedras com alta velocidade e não escapar. Rezar e confiar eram algumas alternativas ou relaxar e curtir o ar que roçava a pela grande velocidade. O que me animava era olhar dono do iate que ia sentado à minha frente; cobria a cabeça e dormia confiando totalmente em seu motorista. E eu?  Rezava tentava relaxar também mas era difícil. O vivido um mês atrás, todavia estava ressoando no

corpo na alma em todo meu ser. Mas mesmo assim fu tentando experimentar e aproveitar daquele momento magico que só os que navegam por estes rios da Amazônia sabem o que estou falando.

Estar e atuar na Amazônia tem suas artimanhas que cada um vai aprendendo   com amor ou com a dor. Cada uma faz a experiência que é possível. Uns mais outros mesmos. Como canta o famoso Raízes cabocla: “Amazonas moreno, tuas águas sagradas, são lindas estradas, são contos de fadas, ó meu doce rio.

A canoa que passa, o voo da garça, as gaivotas voando, em ti vão deixando seu gosto de amar.   É o caboclo sonhando, que entoa remando, o seu triste penar.  Neste poema de bolhas, que ressoa nas folhas das lindas florestas do meu rio mar.

É o caboclo sonhando, que entoa remando, o seu triste penar. Neste caudal tão bonito, que é desejo infinito de soltar meu grito nas ondas do mar. ”

Este rio tem lugares que parece mar de fato. Ondas forte que a tudo se remove. Os barcos e canoa parecem estar passando por estradas esburacadas. Ondas que os corpos sentem nos gonzos o movimento das águas. Se vai chover então se sente mais a força. O Rio Negro se destaca dos demais rios amazônicos, seu cárter escuro, suas águas cor de café esconde segredos que   há muitos se questionam. Os botos ficam cor de rosa em contraste com sua cor. A água é limpa serve ao consumo daqueles que vivem a sua margem e não dispõe de outra água para seu consumo diário. Dizem no Museu da Borracha que no tempo dos senhores a condessa mandava suas roupas para lavar na Europa devido a cor e teor da água. Tomava banho em água mineral.  Se escutasse este rio saberíamos de muitas histórias que ele testemunhou ao longo deste século. No período da borracha. Deixemos isto aos historiadores com mais precisão.

Seguimos apreciando sua majestade e beleza. Quando vencidos os obstáculos chega a se a são Gabriel da Cachoeira.  O porto fica a 18 Km da cidade devido as cachoeiras. Não é possível seguir por água.  Segue por terra estes quilômetros esburacados sinal doo abandono das autoridades governamentais.

Entrando na cidade já se sente o frescor e calor ao mesmo tempo ali estão as famosas cachoeiras. Uma beleza sem igual. Pedra as mais variadas. Ecoando o cantar das ondas, multiplicando as cores e tonalidade da água. Muita gente ali se deliciando. Nesta época de seca tem abundantes praia com areias limpas e brancas. Famílias, amigos namorados jovens enfim todas as categorias humanas e biodiversas estão desfrutando. O por do sol inesquecível. Raios brilhantes entre as rochas. Coqueiros, açaizeiros tudo completa o cenário inesquecível.

Pescadores aproveitam as encostas para pescar. Interessante que muitos pescam a noite. Quando vai escurecendo as pessoas vem chegando com seus apetrechos de pescas. Muitas vezes ficamos observando para ver e se pescavam e alguns sim pescavam.

O barulho da cachoeira produz sua própria melodia. Canção que faz relaxar esquecer o cansaço da viagem e qualquer preocupação. bBem-aventurado os olhos que viram estas paisagens e as agudará em suas retinas porque nem todos são privilegiados.

Este Município é o maior em população indígena, 23 povos, 18 línguas uma cultura que está para ser vista a olhos nus. Sua selva está 97 % preservada pelo difícil acesso; se chega só por água e por avião e pela população 95% originária. A casa Comum agradece.

 

 

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ascom

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